Perpétua adorava poesia e música clássica. 

Nunca havia tido educação musical, mas o bom gosto era-lhe inato.
Um dia vestiu-se de violinista e fingiu ser a melhor das melhores. Dançou ao som de violinos imaginários no jardim de sua casa.
A música tocava de acordo com o movimento do corpo da moça, não admitia que as coisas administrassem a sua vida, que não fosse ela mesma.


Tinha manias que qualquer um classificaria como esquisitice. 

Lavava as mãos de 12 á 15 vezes por dia, como se aquilo de certa forma purificasse a sua alma. Também não doava suas roupas velhas e amontoava todas elas num quartinho no fundo da casa de sua mãe, como se aquelas roupas estivessem sendo guardadas para algo no futuro.

Odiava atrasos e era amargura por motivo nenhum, tem gente que é assim por vida.

Estava sempre criticando um ou outro, bastava existir e lá estava Perpétua virando a comentarista da vida alheia.
Acredite, ninguém imaginava que Perpétua tinha esse perfil. Usava uma máscara de perfeição impecável.
Havia aprendido tudo isso com seus pais, evangélicos fiéis, do tipo que dão o dizimo todo mês, que abominam álcool e que cultivam cabelos e saias longas, até nos dias de verão.


Aos 21 Perpétua se casou com um cara chamado Tadeu.
Era Tadeu um tipo de nerd extrovertido, u
sava um óculo quadrado e possuía covinhas encantadoras. Homem gentil, que falava com quase todo mundo na rua, era amado o tal moço.

Foi por causa de Tadeu que Perpétua decidiu se tornar uma pessoa melhor. Boa causa, diga-se de passagem.
Se fosse bíblico, Tadeu seria algo similar a Jesus, já que tinha um coração do tamanho do infinito. Saltava-lhe sempre no peito.
O jovem acordava toda manhã e levava café na cama de sua amada. Isso durou anos, até que um dia o moço resolveu comprar uma joia que Perpétua cobiçava há meses.

Comprou e foi feliz como nunca. Enquanto imaginava as doces palavras que diria a esposa foi abordado por um homem que tentou roubar a tal joia.
Ocorre que aquele tesouro não podia ser usurpado, era de sua amada! Foi pensando nisso que Tadeu reagiu ao assalto e foi baleado impiedosamente.
O que se sabe é que o moço levou cerca de 6 tiros, deixando Perpétua sem a joia, sem ele.


Foi terrível e Perpétua imaginou que jamais amaria de novo, naturalmente.
Chorou por meses e culpou-se todos os dias, se castigava.

Punia-se ficando sem comer, tomar água ou divertir-se. Sentia-se melhor quando penalizava-se duramente.

2 anos depois ela conheceu um rapaz chamado Marcelo, e foi na fila do mercado.
Foi uma sintonia extremamente carnal. O rapaz possuía um corpo escultural, e isso nunca tinha feito a cabeça de Perpétua...porém algo havia mudado em si mesma.
Começaram uma amizade e todas as noites Perpétua desejava estar nos braços daquele homem. Esses pensamentos eram frequentes, seguido da culpa por estar traindo, de certa forma, o pobre Tadeu.


Sucedeu que Marcelo a pediu em casamento em uma certa manhã de Natal.
Perpétua odiava essa data, mas passou a amá-la naquele momento. Amou tanto o Natal que se preparava todo ano para ele, é incrível como o amor nos muda.

Foi com Marcelo que Perpétua perdeu a culpa, adquiriu confiança e permitiu-se sorrir novamente.
Ele implorava para que ela lesse poesias para ele, que ela dançasse ao som de violinos imaginários. E ela amava tudo aquilo, esperava todas as noites para que fizesse um espetáculo para o próprio marido.
Perpétua era livre com Marcelo.


Certa manhã o rapaz se sentiu mal e foi levado ao hospital.

Foi um choque quando o médico disse que ele estava com um câncer de pulmão avançado.
Perpétua teve que encarar o olhar dos familiares do marido, que a culpavam por tal doença, como se o carma dela tivesse contaminado ele.
Marcelo não durou muito e Perpétua jurou que jamais se entregaria novamente ao amor, novamente...


Pobre moça, mal sabia o que a vida lhe reservava.


Tornou-se religiosa do tipo beata. Usava saia longa, cabelos amarrados e abominou maquiagem.
Se já era amarga, tornou-se intragável. Orava todos os dias pelos seus pecados e os pecados dos outros, mas alimentava sua mágoa, sua ira, seu ódio. Tolice!
Tornou-se tudo aquilo que um dia desprezou, era ela a figura que desprezara há alguns anos.


Um tal pastor chamado Davi se encantou da nobre moça. Achou que ela seria um bela esposa para ele e 'cortejo-a'. 

Imaginando ser os desígnios de Deus, Perpétua casou-se pela terceira vez. Dessa vez tentou fazer tudo certo e orava todos os dias por seu casamento, era dedicada.
Acreditou que Deus a abençoara quando engravidou, porém no quinto mês de gravidez descobriu que o bebê estava morto dentro de sua barriga, e foi o pontapé para entrar numa depressão profunda.


Perpétua podia jurar que a morte a acompanhava a cada esquina. Confirmou o fato quando Davi bateu seu carro e morreu, a caminho do culto.

Pobre Perpétua, já estava se acostumando com uma vida de desgraças.
Viveu sua depressão por meses a fio, esqueceu-se da felicidade, não havia nascido para usufruir daquilo.


Aos 36 anos Perpétua se revoltou com a igreja e resolveu se desprender dos dogmas que havia cultivado.

Foi aí que conheceu um tal Mário, que bebia feito um condenado, fumava tudo que era fumável e que se alimentava como um porco.
Era bonito, é bem verdade, mas era um imundo.
Perpétua sabia que ele morreria em breve, por isso não deixou que ele adentrasse o seu coração.
Ocorre que o tal Mário tinha a saúde de um touro e todas as vezes que ia ao médico recebia elogios sobre sua glicose, o seu colesterol e tudo que continha nos exames.
Mário parecia ser imortal.


Perpétua permaneceu durante anos naquele casamento, e Mário estava cada vez mais forte e saudável.

É bem verdade que aquilo incomodava a moça. Como pode alguém tão displicente ter uma saúde de ferro?
Perpétua começou a desgostar do homem, pensou em se separar, mas perderia todo o conforto que ele lhe proporcionara.


Certo dia acordou e decidiu que mataria seu quarto marido. Não aguentava o fato de vê-lo cada vez mais vivo.

Pensou em como fazê-lo de forma que não a incriminasse e foi assim que decidiu então por esfaqueá-lo. 
Enquanto Mário dormia depois de uma noitada, onde o seu corpo continha mais álcool que sangue, Perpétua o matou.
Vestiu sua melhor roupa, estava sexy, e então esfaqueou o coitado, sem dó.
Sentiu prazer até o ultimo minuto e depois trocou de roupa e adormeceu na cama que pertencia a ambos.


Pela manhã ela mesma ligou para a polícia e criou um falso álibi que dizia que nem tinha visto a hora que o marido havia chegado em casa, só que encontrara o corpo do mesmo entregue a morte ao raiar o dia.

E conviveu com isso durante anos e asseguro, jamais sentiu culpa.

Amou os quatro maridos com todo seu amor, mas preferia mesmo cada um em seu túmulo.
Era muito pequena a tal Perpétua para poder desfrutar da felicidade. Não havia nascido para isso.

Laryssa Carvalho nunca
se casou.

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