Acredito que essa deveria ser uma postagem triste, mas não será.
Somos um amontoado de coisas. Somos lembranças. Somos fragmentos dos outros, e aquilo que não foi construído sem fragmentos, não existe. É cientifico, é real, é metafórico, é subjetivo.

Eu sempre me magoei muito com partidas, mas isso mudou nitidamente. Compreendi que há beleza nelas e ando praticando isso, diariamente.
Estou deixando velhos hábitos, me despedindo de antigas músicas e dando adeus a pessoas também.
Por anos estive acostumada a ser deixada, mas nunca a deixar alguém. Era penoso.
Como em um disco arranhado, lá estava eu passando pelas mesmas coisas, com pessoas diferentes.


Ocorre que com o tempo eu comecei a entender o propósito das partidas. 
Interpreto como finais de missão. Acredito que todo mundo tem uma missão na vida de todo mundo. Embolou?
É basicamente um trabalho, um papel, e depois que isso é realizado é hora de dar adeus e ir executar sua nova missão na vida de outra pessoa.


Já não culpo mais ninguém por ir embora. Culpei por muito tempo sim, e admito com orgulho e decepção.
Orgulho por estar finalmente admitindo isso, e decepção por ter cultivado isso por tanto tempo.
Entretanto, não vivemos de passado, apenas o tomamos como base, solo para o presente e, consequentemente, para o futuro.


Sobre as pessoas que partiram tenho muito a dizer. 
Lembro-me de minha avó Maria, a mulher mais linda que já conheci na vida.
Lembro que eu e meus primos nos reuníamos na sala da casa dela para jogar War,  enquanto ela escolhia uma roupa para ir ao culto de quarta-feira.
Enquanto a gente disputava territórios, minha avó chegava na sala e pedia nossa opinião sobre qual roupa usar.
Engraçado é que sabíamos que ela já tinha escolhido algo, mas sempre se importava em ter a nossa participação em seu look. 
Ás vezes ela mudava a roupa que estava vestindo, devido a nossa mera opinião.
Minha avó deixou em mim algo que prezo muito, ela me ensinou a se importar com as pessoas.

Namorei um rapaz que me ensinou sobre a nobreza.
Lembro-me dele e de sua bondade com crianças e idosos, e mal sabia ele que aquilo era a coisa que mais me fazia amá-lo.
Ele conseguia desenvolver a bondade a níveis altíssimos, a ponto de abrir mão de seu próprio bem estar pelos outros.
Talvez ele nunca saiba, mas eu odiava a ideia de ter filhos, bem como a ideia de envelhecer. Porém ele mudou isso em mim. Ele partiu e deixou para mim a vontade de perpetuar minha vida em filhos e a gratidão do envelhecimento.

Também tive um amigo que vivia num universo próprio, mas que vivia intensamente.
Por muito tempo eu achei isso magnifico e sempre o incentivei a ser como o Peter Pan.
Mas a vida me mostrou que não se pode estacionar, é preciso andar, pois o transito não pára.
Esse amigo não partiu, eu parti. Senti-me pressionada a partir, e foi doloroso. Não me ensinaram a partir, forcei minha natureza.
Não sei o que deixei com ele, mas comigo ele deixou uma mensagem de que devemos viver intensamente cada momento. Afinal, será que o amanhá existirá?

Em outra ocasião namorei um cara que para mim foi um desafio.
Ele já estava severamente marcado por partidas, mas tinha o coração mais doce que eu já pude conhecer.
Então ele usava uma capa de negatividade, de garoto cabisbaixo, do tipo que estava sempre revoltado com a vida.
Mas ainda lembro de seus olhos felizes me olhando, enquanto fingíamos que estávamos assistindo um filme em sua casa.
Esse garoto me fazia tentar o meu máximo nas coisas, dar o meu melhor. Algo nele me motivava a isso, diariamente.
Ele partiu e eu também parti, partimos. Mas ele me deixou com essa vontade de tentar as coisas com todas as forças.
Ele também me ensinou que o amor pode ser bom, mesmo que acabe.

Uma vez eu fui no médico com minha mãe e enquanto esperávamos a nossa vez conhecemos um cara.
A verdade é que não lembro o seu nome ou o seu rosto, mas foi importante o suficiente para que eu jamais esquecesse de sua história.
Ele disse que era um homem muito rico, mas que tinha perdido tudo porque amou uma mulher.
A mulher não havia lhe roubado nada diretamente. Na verdade ela apenas o deixara, o que lhe motivou a jogar e a perder todo o seu dinheiro em jogos.
Relatou-nos que passava dias na borda de uma mesa de jogo, sem ao menos sentir as horas passarem.
E então um dia ele não tinha mais nada.
O caso é que aquele homem estava ali, e parecia estar forte. Então ele falou comigo que não importava a sua história, não importava o tempo, você pode reescrevê-la.
Aquilo foi exatamente o que eu precisava ouvir. Aquele homem me ensinou que o erro não muda a possibilidade de correção, não muda o fato de que podemos tentar um suposto acerto.
Ele ainda não tinha acertado, mas estava tentando.

Se eu fosse contar sobre todas as pessoas que passaram em minha vida, certamente escreveria um livro.
Conheci pessoas talentosas, conheci pessoas que apenas sobreviviam e umas poucas que viviam de fato.
Conheci muita gente que era cego por suas crenças e que morreria sem elas ou por elas. Conheci pessoas que não nasceram para desfrutar da felicidade por escolha própria.
Como já havia dito no começo, somos fragmentos.
Gostaria de agradecer a todas as pessoas que passaram por minha vida, e por tudo que me fizeram passar. Não importa se foram coisas boas ou ruins, vocês me fizeram ser o que sou e não descarto um cartão de gratidão por isso.
Recentemente conheci outras tantas pessoas com missões em minha vida, e eu com missões nas suas.
Uma delas é um amigo que me ensinou o quanto devemos encarar a vida com leveza.
Por mais que ele esteja mal, sempre há humor em suas palavras. É uma pessoa que me carrega online, madrugadas a fio, e está a quilômetros de mim.
Está tão longe e tão perto, que não consigo sentir saudades. É como se ele morasse no apartamento ao lado.

Também conheci um amigo que talvez seja a segunda pessoa que mais me entende no mundo. E admito, tenho extremo ciume dessa pessoa, não gosto de perder pessoas raras.
Sim, somos amigos, do tipo irmãos, mas tenho aquele espirito de proteção como de uma gata recém-parida, protegendo seus filhotes.
Essa pessoa me ensinou o que é, de verdade, o significado de uma verdadeira amizade.
Um sentimento fundamentado na verdade, sem bajulações, sem mentiras, sem abraços frios.

Por ultimo, e não menos importante (porque sempre uso essa frase?), conheço um cara que me entende como ninguém. Tenho certeza que ele jamais vai ler isso aqui, por isso estou destemida.
Ele, assim como eu, é o mar. O mar está calmo, mas pode esbravejar quando necessário.
O mar é profundo, é misterioso e maravilhoso. Só conhece o mar quem tem coragem de ir a fundo, porque ele pode ser perigoso, ele pode te matar.
Ainda não sei o que o mar quer me ensinar, bem como outras pessoas que estão em minha vida, mas estarei sempre disposta a aprender.

Laryssa Carvalho não
deseja partir de suas
vidas. Mas se for
necessário, o fará.


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