Vênus acordou com o que parecia ser uma ressaca daquelas.
Olhou para o relógio que marcava 10:40, estava atrasada.
Na verdade Vênus não tinha nenhum compromisso, planejava morrer em breve.

O homem do seu lado não tinha nome, era só o cara da sexta-feira.
Vênus estava cultivando o hábito de ter um homem diferente por noite, desde então já não lembrava o nome de nenhum deles.


A verdade nua e crua era que Vênus se chamava Maria do Carmo, e meu Deus, como odiava esse nome!
Sendo assim, mudou ela mesma seu nome para Vênus, por que o destino quis.
Vênus, assim como nós, atribuiu a culpa de suas merdas ao destino, rotineiramente.


Ela levantou da cama e procurou por um espelho, a moça não estava na sua casa. O tal cara estava morgado do outro lado da cama, contaminado por litros de vodka da noite anterior.
Vênus odiava os homens, odiava o modo como eles  praticavam o suicídio paliativo.
Odiava e copiava. Ela acreditava que a bebida e o cigarro eram apenas uma maneira de se matar aos poucos, atitude covarde que ela mesma tinha adotado.
Mas nem sempre para ela tinha sido assim.


Há 5 meses Vênus morava em um convento e fazia preces todos os dias, até que descobriu que seu pai estava doente.
As chances de que ele sobrevivesse eram de 80%, e mesmo assim Vênus resolveu fazer promessas para garantir a causa.
Por ironia do destino o pai da moça faleceu. Por ironia ou porque o destino quis, mas nesse caso Vênus prefere não justificar como algo planejado pelo destino.

Procurou respostas entre as irmãs do convento, com o padre, com Maria, Santo Antônio, obteve silêncio e não gostou.
Um dia acordou e decidiu por acreditar que Deus estava morto. 
Comprou uma agenda do ano de 2006 (estava em promoção) e resolveu escrever um diário, e decidiu que anos mais tarde, caso Deus existisse, ela enviaria aqueles escritos a ele.


Na manhã seguinte Vênus acordou e cortou seus longos cabelos, deixando-os um pouco abaixo do ombro.
Comprou alguns vestidos que jamais usaria em outra época e um estojo de maquiagem, que ela mal sabia usar.
Vênus decidiu desafiar Deus, caso ele existisse.
Sendo assim, começou a fazer tudo o que lhe foi privado. Boa garota!


Juntou alguns trocados e quebrou os santinhos que haviam em seu quarto. É bem verdade que chorou por dias, sentindo-se uma prostituta, e se acostumou àquele sentimento. Tornou ele seu amigo, dormiu com ele, comeu com ele, saiu com ele, tornou-se ele.
Começou escrevendo uma carta para Deus, alegando que ele estava morto e que estava se sentindo estupida escrevendo aquilo para um ser que nem existia. Mentia constantemente para si mesma.
Mesmo assim foi ao mar e jogou a tal carta, aos prantos. Pobre Vênus, queria respostas. E quem não as quer?


Decidiu por cometer os sete pecados capitais. Comeu tudo o que podia e não podia, e teve sorte por ter um metabolismo acelerado, o que não lhe permitiu engordar como uma porca.
Acordou tarde durante dias e acostumou-se a estar sempre atrasada. Interiorizou a teoria de que pontualidade é coisa de tolos, e talvez seja mesmo.
Bebia ira todos os dias ao lembrar dos dias que passou fazendo preces, cantando hinos, acreditando em coisas inexistentes. Sentia-se tola por nunca ter questionado tal atrocidade, adormecera por muito tempo.


Maquiava-se todos os dias e exercia a vaidade com classe. E foi aí que decidiu ter um homem por noite. Decidiu que seu corpo seria sua maior arma de blasfêmia, mesmo que isso lhe custasse ressacas e gastrite.
Meses depois era Vênus a deusa do sexo. Não se apegava a ninguém e a nada, estava no automático.
Pobre Vênus, até onde a ira pode nos levar?


Em um dia comum Vênus decidiu visitar a capela onde costumava ir. 
Estava indo por ironia e sarcasmo, adorava ver os ignorantes adorarem o inexistente. Sentia-se inteligente por saber que tinha se livrado daquilo.
Chegando lá foi surpreendida por um novo padre, tinha por volta de 35 anos e era um belo homem.


Vênus sentiu-se como Maria Madalena e queria a todo custo enfrentar aquele desafio, blasfemar naquele tempo. Era aquele homem a vingança perfeita.
Depois da missa ela esperou que todos os fiéis saíssem e começou a puxar assunto com o rapaz.
Contou-lhe sobre o seu pai e sobre como ainda estava magoada com o acontecimento, mas não citou o fato de que estava sacaneando Deus.


Como uma puta profissional, pediu ao padre um copo de água e ele, inocentemente, lhe chamou para que entrasse no interior do templo. Já que a moça já tinha sido do ministério, que mal haveria?
Enquanto o homem providenciava a água, Vênus traçava um plano magnifico, influenciada pelo próprio diabo. Sendo assim, despiu-se e esperou o rapaz voltar.


O padre ficou abismado ao ver aquela mulher linda e nua em sua sala. 
Ficou sem reação de imediato, até balbuciar algumas poucas palavras questionando o que estava acontecendo.
Como um demônio, Vênus era muito articulada, caminhou até a porta e a trancou, jogando a chave em um lugar onde nem ela mesmo saberia.


O tal Padre, que se chamava André, tentou ser paciente até ser tocado pela mulher nua.
Seus instintos gritavam e sua pele ardia tanto quanto o fogo do inferno.
Enquanto isso, a jovem moça lhe jogava um discurso com palavras bonitas, sussurrava-lhe ao ouvido, era demoníaca.
Em pouco tempo André já não tinha posse de suas atitudes, estava ele a a moça num ritmo sexual que nem mesmo a própria Vênus havia experimentado antes.


Ficaram ali por horas, e o próprio padre não resistia mais. Havia provado de um veneno que jamais poderia ser curado, estava marcado para sempre.
Depois do plano maligno, Vênus planejou partir, mas não conseguia. Havia criado raízes no corpo daquele homem e ele no seu corpo. Ficaram naquele ritmo por dois dias e certa manhã Vênus começou a chorar. Tinha que contar a ele que estava sendo usado num plano maligno.


Aos prantos ela contou a André que odiava Deus, que sentia a sua presença, mas que pregar a sua inexistência era só uma das partes de sua vingança.   
André se compadecia cada vez mais daquela alma. Como poderia ser tão imperfeitamente perfeita?
Ele queria aquela mulher em seus braços para sempre, mas Vênus tinha que partir.

Ela estava numa missão onde somente ela mesma poderia se libertar, e talvez um dia ela voltasse. Ele era dela por toda a eternidade, se a mesma existisse.

Sabendo que eram as ultimas horas juntos, André quis eternizar o momento.
Vênus estava nua, apenas as cobertas lhe cobriam o corpo. Então ele pediu a sua permissão para tirar uma foto.

Ainda com feições tristes a moça cedeu sem pestanejar. 
Havia tristeza, havia ira, havia doçura, havia beleza. Vênus estava eternizada naquela fotografia como nenhuma outra mulher jamais será.


André jamais viu aquela mulher novamente, mas a fotografia dela está na sua Bíblia há anos.
O padre jamais deixou o ministério, mesmo tendo duvidas sobre a assistência de Deus para com seus filhos.
Jamais duvidou da existência do mesmo, e confirmou que existem milagres como Vênus, que apenas mostram o quanto Deus pode ser perfeito, segundo ele.


Anos depois André recebe em sua casa um pacote, enviado por Maria do Carmo Santana de Luz. Achou que fosse algum presente dos fiéis até ler a primeira página.

"Querido Deus, eu te matei em mim."

Laryssa Carvalho se
sente eternizada
nas fotografias.


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