Vou falar de mim mesma usando como ponto de referência o passado.
E essa era eu: eu defendia ideias que nunca havia questionado, amava pessoas que nunca imaginei que me magoariam, acredita em sonhos utópicos e era motivada a sustentá-los com muita fé em algo que eu jamais tinha visto, tocado.
Cantava sem propósito, não entendia o sentimento que o timbre passava, que uma voz expressava.
Andava no bosque da vida com capa vermelha, uma cesta de frutas e um pedaço de torta de limão. Era contra tudo e todos que usavam o corpo como forma de expressão.
Acatava todas as ideias que me assustavam, e é bem verdade que tudo me assustava.
Sempre fora talentosíssima, e não perdi isso ainda. Executava com perfeição comandos que soavam até automáticos para mim, mas que pareciam corretos mediante os olhos dos outros.
Mas nada que uma turbulência não mude o curso do avião.
Passei por uma turbulência significativa enquanto viajava para o paraíso. O voo estava tranquilo, o serviço de bordo era perfeito...até que foi me informado que apesar de lindo o avião estava com a fiação ruim, o seu motor era antigo e o piloto já estava acostumado com os problemas que ele sempre dava, motor previsível.
A principio achei que fosse encenação da aeromoça e, admito, cheguei a julgá-la erroneamente.
Quando me dei conta o avião já havia caído e lá estava eu nos destroços, com alguns arranhões. Toda a tripulação havia sumido misteriosamente e eu me encontrava em um lugar desconhecido.
“Onde estão as pessoas que me amam?” – perguntei em voz alta, sem obter resposta.
Vasculhei a ilha, estava sozinha. Entrei em pânico, chorei por semanas, não comia e malmente dormia...emagreci, perdi a razão, enlouqueci.
Em semanas tornei-me selvagem, o instinto falava mais alto em tudo. Senti-me tão só, abandonada, que nada me fazia ver as coisas de uma perspectiva diferente.
Eu era só instinto...comia por instinto, dormia de um modo que me deixasse acordada, era um racional tão irracional que já não existia forma de nomeá-lo.
Quando perdi as esperanças notei um rastro de civilização e comecei a segui-lo dentro da ilha. Até que me dei conta que eu estava apenas em uma parte de uma grande ilha, que não tão distante dali havia uma civilização que poderia me livrar daquela solidão total.
Equivocada ideia, jamais conseguiria me adaptar novamente a carros, multidões, comida instantânea. Tentei por meses voltar a ser quem eu havia sido, mesmo que aquilo não tenha sido eu mesma, originalmente. Falhei! O barulho da cidade me incomodava, a comida tinha um gosto tóxico e estar com muitas pessoas me deixava atormentada.
Sem pestanejar tomei coragem e voltei para a parte desabitada da ilha. Dias depois senti saudade do barulho dos carros, da agitação das pessoas...da comida rápida.
E chorei, chorei bastante. Afinal, quem era eu? Uma pessoa fabricada ou uma pessoa que havia sido adaptada as necessidades?
Então eu entendi que o local não influenciava minhas saudades, necessidades e carências...eu apenas não sabia quais elas eram, verdadeiramente.
Vou te falar de mim hoje: Eu sou uma pessoa que está descobrindo, no íntimo de meu ser, quem realmente sou.


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